"Josefa, 21 anos, a viver com a mãe. Estudante de Engenharia Biomédica, trabalhadora de supermercado em part-time e bombeira voluntária. Acumulava trabalhos e não cargos - e essa pode ser uma primeira explicação para a não conhecermos. Afinal, um jovem daqueles que frequentamos nas revistas de consultório, arranja forma de chamar os holofotes. Se é futebolista, pinta o cabelo de cores impossíveis; se é cantora, mostra o futebolista com quem namora; e se quer ser mesmo importante, é mandatário de juventude. Não entra é na cabeça de uma jovem dispersar-se em ninharias acumuladas: um curso no Porto, caixeirinha em Santa Maria da Feira e bombeira de Verão. Daí não a conhecermos, à Josefa. Chegava-lhe, talvez, que um colega mais experiente dissesse dela: "Ela era das poucas pessoas com que um gajo sabia que podia contar nas piores alturas." Enfim, 15 minutos de fama só se ocorresse um azar... Aconteceu: anteontem, Josefa morreu em Monte Mêda, Gondomar, cercada das chamas dos outros que foi apagar de graça. A morte de uma jovem é sempre uma coisa tão enorme para os seus que, evidentemente, nem trato aqui. Interessa-me, na Josefa, relevar o que ela nos disse: que há miúdos de 21 anos que são estudantes e trabalhadores e bombeiros, sem nós sabermos. Como é possível, nos dias comuns e não de tragédia, não ouvirmos falar das Josefas que são o sal da nossa terra?"
Por FERREIRA FERNANDES, Diário de Notícias
Que mundo é este em que vivemos?.. Em que só as "fardas" dos parasitas são aplaudidas, fica a pergunta, foi algum bombeiro ou bombeira condecorado no 10 de Junho? Esses não são também filhos da nação? Grandes exemplos nos surgem de forma tão sangrantemente triste! Aplaudo o artigo de Ferreira Fernandes.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Eu aplaudo o artigo e a crítica, hovessem mais Josefas e o nosso mundo seria um lugar mais bem frequentado...
ResponderEliminarTão verdadeiras essas palavras... mas os bombeiros não morrem, reagrupam-se no céu, para combaterem o fogo do inferno, e a Josefa é mais um anjo da paz...
ResponderEliminarEu aplaudo de pé e subscrevo cada letra.
ResponderEliminarAlguns velhos do Restelo insistem na ideia de uma Juventude perdida que só quer saber de festas, festinhas e festarolas. Felizmente, há Josefas que lhes mostram como estão enganados.
Sim, é verdade, alguns de nós gostam de festas mas também há alguns de nós que estudam, trabalham, são voluntários e ainda são filhos, amigos, namorados et cacetera cacetera…
Quanto a condecorações e medalhas no 10 de Junho (não nego que o reconhecimento seja importante) preferia ver renovações de meios e viaturas dos Bombeiros com a mesma frequência com que se renovam os carros topo de gama com que se passeiam os nossos ministros e secretários de estado.
E quanto vale a vida de um bombeiro? Pouco mais de 100000eur (225 vezes o ordenado mínimo nacional). Perguntem às mães de Josefas o que pensam deste valor…
Os fogos em Portugal estão associados a dois elementos:
1)Mão criminosa: o que será necessário mudar na lei e nas consciências para que tal mude;
2)Falta de limpeza do mato: o proprietário da maior área ardida é o próprio Estado (porque é que há tanta gentinha a receber o rendimento mínimo nacional para estar todo o dia a ver novelas enquanto podiam estar a limpar floresta da área de residência? Trabalhar custa muito…)
Desculpa o desabafo minha irmã querida, também tu trabalhadora, estudante e voluntária (e que ainda tem tempo para ter um blogue=D) e deixa-me que te diga que tenho muito orgulho em ti e em todos os heróis incógnitos e muitas vezes invisíveis do nosso país.
Di.. gosto-te!
ResponderEliminar