domingo, 3 de julho de 2011

Depressivo navegante.

Na Idade Média, o indivíduo considerado louco era confiado a mercadores e peregrinos que navegavam por mares, rios e canais da Europa, numa medida de esvaziar das cidades qualquer tipo de gente que incomodava a ordem da época.
Daí eu reproduzo esse texto de Michel Foucault:


"A água e navegação têm realmente esse papel. Fechado no navio, de onde não se escapa, o louco é entregue ao rio de mil braços, ao mar de mil caminhos, a essa grande incerteza exterior a tudo. É um prisioneiro no meio da mais livre, da mais aberta das estradas: solidamente acorrentado à infinita encruzilhada. É o Passageiro por excelência, isto é, o prisioneiro da passagem. E a terra à qual aportará não é conhecida, assim como não se sabe, quando desembarca, de que terra vem. a sua única verdade e a sua única pátria são essa extensão estéril entre duas terras que não lhe podem pertencer". (no livro História da Loucura).


Eis um retrato do depressivo moderno: é prisioneiro de sua liberdade; navega pelo mar de seu sofrimento delirante e, quando se dá por "curado", desembarca numa realidade diferente daquela que partira.

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